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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Entrevista com Glauber Coradesqui


Uma mistura de agenda com curiosidades, histórias e trabalhos sobre espetáculos e pessoas que fazem o teatro acontecer em Brasília. 
 E para abrir as portas segurando o abacaxi, uma entrevista com Glauber Coradesqui. Professor, pesquisador e produtor licenciado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, lecionou na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (2009-2012) e foi coordenador de pesquisa e projetos da Fundação Athos Bulcão por 3 anos. Escreveu livro e fez cursos nas áreas de Direção teatral e História da Arte em Londres, Inglaterra. Atualmente com um novo livro sobre a história teatral brasiliense ele conta sobre sua história e carreira no teatro.


Um grande homem em um artista ou um grande artista em um homem?


Quem é Glauber Coradesqui por Glauber Coradesqui

Olha, o Glauber é uma pessoa que decidiu fazer o que ele tinha vontade de fazer e foi atrás disso. Acho que ele é uma pessoa obstinada, decidida, apesar de muitas vezes não saber o que quer é alguém que não espera parado, que espera sempre em ação. Inclusive falta tempo de respirar muitas vezes em várias decisões que eu tomo. Eu estava falando da respiração e não tem nenhum elemento de ar no meu mapa astral e isso me faz muita falta, às vezes eu sinto a necessidade de parar e respirar antes de tomar certas decisões, de pensar em certas coisas. Mas ele também é um menino do interior, que cresceu brincando com o pé descalço em Minas Gerais e se mudou pra Brasília 20 anos atrás.
Eu sou uma pessoa que ainda não desenvolvi um antídoto contra seres humanos. Então eu ainda acredito e desejo o convívio com eles.

A vontade de fazer teatro
Eu não sei explicar exatamente de onde veio. Eu sei que eu fui uma criança muito aficionada pela televisão e eu acho que isso me colocou em contato com o universo da arte de alguma maneira. Acho que foi por esse caminho que eu entrei. Mas desde que eu me entendo por gente eu sei que eu gosto de arte e que eu tenho vontade de me expressar artisticamente de algum jeito.
 Ninguém da minha família é artista, estuda arte e frequenta espaços de arte, culturais, apesar de que quando eu era criança minhas tias desfilavam nas escolas de samba da cidade, eram artesãs, uma bisavó minha era uma artesã super talentosa... Mas essa relação mais formal com a arte, como a gente tem hoje, ninguém da minha família tinha.


Ser arte educador
Eu adoro dar aula, aprendo muito dando aula. Quando eu era criança também brincava de ser professor e era do que eu mais brincava, eu acho. Pegava minha irmã e ela era minha aluna. Então eu tenho essa vontade desde que eu era pequeno e depois que eu comecei a estudar vi que essa é realmente a minha vocação.
Dou aula porque eu gosto, porque eu acredito no momento da aula como um momento de formação, libertação, conhecimento. eu acredito que especialmente ensinar arte é uma maneira de possibilitar caminhos para que as pessoas se tornem mais autônomas diante do fenômeno artístico e das experiências que elas venham a ter.


Os dois lados
Eu não sei se existe a diferença entre o Glauber homem e o artista. Eles são a mesma pessoa. O que eu faço e vivo na arte é o que eu faço e acredito na vida. Tento levar pra minha profissão as mesmas coisas que eu levo pro meu dia a dia. Só acho que nas esferas profissionais a gente faz certas concessões que muitas vezes a gente não faz nas esferas pessoais.


Universidade e formação
Eu acredito que um artista que se forma na universidade é bastante diferente do artista que se forma no dia a dia, na escola técnica ou dentro de um grupo. Apesar de que a universidade nem sempre é o primeiro contato do artista com o teatro. Muitas vezes ele vem de um grupo amador, de alguma outra experiência do passado que ele vai tentar consolidar de alguma maneira ali.
Eu penso que a universidade tem um espaço muito grande pra experimentar e nesse sentido me parece que os artistas que se formam em Brasília são artistas mais dispostos a experimentar, brincar um pouco mais, a buscar outros caminhos para a criação artística que não os caminhos mais consolidados, mais tradicionais. Agora é difícil dizer porque eu também não tenho um  contato tão aprofundado com os artistas de outras cidades .
Eu vejo coisas em outras cidades e eu percebo uma diferença entre o que a gente vê aqui. Acho que realmente Brasília se joga um pouco mais na experimentação apesar da gente ainda ter um mercado muito incerto, muito incipiente, de ter uma população que é pouco cúmplice da produção que a gente faz.

Relação com a Fundação e Athos Bulcão
A fundação Athos Bulcão é uma grande escola pra mim. É o lugar onde eu realmente me formei profissionalmente. Foi lá que eu aprendi a fazer a maior parte das coisas que eu sei fazer no que diz respeito ao desenvolvimento da minha profissão principalmente da parte de gestão cultural, coordenação de projetos, arte educação. A outra parte eu aprendi na universidade. Então eu tenho um apreço enorme por ela, uma instituição muito séria que desenvolve projetos de enorme importância pra arte de uma maneira geral. Quando você investe no ensino você investe na arte. Eu acho que a fundação faz muito isso, por exemplo, com o festival de teatro na escola que, eu não me canso de dizer, é um dos maiores projetos de educação teatral do Brasil. Por isso que eu acredito muito e eu serei eternamente ligado a ela, foi realmente a minha grande escola, onde eu aprendi e pude fazer muitas coisas legais lá, que eu pude contribuir bastante também pra dar pra fundação essa cara que ela tem hoje. E quanto ao Athos Bulcão eu acho que ele é um desses fenômenos condicionados pelo determinismo geográfico. A gente é uma cidade que está distante do grande centro de produção, da academia que publica, do jornal que circula pra pessoas mais influentes. Athos Bulcão é um artista de alcance nacional talvez internacional. Ele tem uma qualidade de trabalho que com certeza o destaca na história das artes visuais nacionalmente e acho que ele não teve esse reconhecimento porque ele optou ficar em Brasília. Talvez se ele tivesse participado de movimentos culturais no Rio de Janeiro e São Paulo ele teria hoje um lugar de muito maior destaque na história das artes visuais do que ele tem hoje. Mas eu acredito que muito conhecimento ainda será produzido a partir o que ele criou.


Livro Teatro na Escola - Experiências e olhares (Editora Fundação Athos Bulcão. Brasília. 2010)
Então, esse livro é um livro que a gente fez com muito carinho porque ele registra a trajetória de 10 anos do festival. Ele funciona de alguma maneira como uma sistematização daquilo que foi produzido, gestado durante esses 10 primeiros anos que o projeto aconteceu e também como uma matéria de exportação da metodologia do projeto.
O projeto tem uma metodologia própria interessantíssima, uma contribuição pra história do teatro da cidade, também de uma forma muito contundente e acho que esse livro serve muito pra isso. Tem textos bastante sagazes e eu acho que são textos que também colocam o ensino do teatro de uma maneira que outros não colocam. Nesse sentido ele não é só um catálogo, um livro de registro, ele também é um livro de reflexão e que eu acho que quando o descobrirem vão se dar conta de que ele é um material muito rico pra pensar o ensino de teatro no Brasil especialmente na instância formal que eu acho que é um dos maiores desafios do ensino de teatro atualmente. É como ele pode acontecer dentro da escola e não fora como em projetos ou em ações culturais que também são importantes mas que já estão mais resolvidos. Acho que dentro da escola é o maior problema que a gente tem.
E foi a primeira oportunidade que eu tive de exercitar esse olhar mais de autor, de organizador que é uma prática pra qual eu tenho interesse de me dedicar um pouco mais a partir de agora.


Projetos atuais
Eu estou lançando o meu segundo livro que se chama Canteiro de Obras: Nota sobre o teatro candango que é um olhar sobre as obras teatrais produzidas nesses primeiros 50 anos da cidade. Então é uma tentativa de construir alguma reflexão teórica, poética, sobre esses trabalhos que foram criados aqui em Brasília no intuito também de expandir em outros contextos o que a gente produziu aqui que foi bastante interessante. Eu acho que a gente tem obras que merecem o destaque na história do teatro nacional também por encerrarem práticas muito interessantes, muito inaugurais algumas vezes, consistentes, contundentes com o contexto, algumas pesquisas de linguagens super interessantes que se deram só aqui pelo que a cidade proporcionou pros artistas, pelo momento que a cidade aconteceu e pelo momento em que os artistas fazem o teatro acontecer nela, então é uma história curiosa, muito rica e que é importante que o Brasil conheça. Acho que esse é o meu projeto atual de maior destaque.
E estou com uma pesquisa de mestrado sobre a mediação de espetáculos contemporâneos, que é uma tentativa de pensar estratégias pra aproximar o teatro que a gente faz do grande público. Se é que ele existe, quem é esse grande público? Mas a gente sabe que hoje a arte é distante. Se a gente for pensar em classe social ela é muito distante. Então a mediação tem um papel social importante de tentar diminuir essa lacuna que existe entre a arte que a gente produz e a arte que se deseja consumir, acho que ela tenta inverter um pouco esse jogo e tenta incluir mais pessoas no fenômeno artístico que a gente tem produzido atualmente no teatro.


Viver no teatro
Eu não me vejo em outro lugar. Às vezes paro pra pensar em outras coisas que eu poderia fazer, em coisas que eu queria fazer e eu não vejo. Então é onde eu quero estar. Eu quero estar no teatro. Não sei fazendo exatamente o que. É o que eu estou sempre buscando e eu acho que o teatro é um campo que te oferece muitas possibilidades de lugares de atuação e eu tenho transitado por algumas nesses 13 anos que eu faço teatro e eu quero continuar transitando. Eu não me vejo desistindo.


Teatro em 1 palavra
Hm... Nossa que silêncio abismal, Abacaxi. Em uma palavra? Eu pensei em várias palavras aqui, estou tentando escolher a melhor delas que com certeza depois eu vou voltar e trocar. Uma palavra... Compartilhar.
Entrevista feita na quinta-feira, 31 de janeiro de 2013 no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília.

Abacaxi diz: Um grande homem artista!

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